Asterix chez les japonaises
Algumas linhas sobre um filme belgo-canadense no blog do Ros me estimulou a escrever sobre cinema novamente. Mais especificamente sobre um filme francês que vira e mexe eu pego começado no Cinemax. Anteontem, quando finalmente eu vi que ia passar, larguei tudo e fui assistir...
Trata-se de
Stupeur et Tremblement (
ficha,
trailer), de 2003, dirigido por Alain Corneau baseado no romance de mesmo nome de Amélie Nathomb (que deve ter vivido na pele algumas cenas) e produzido por Alain Sarde, marca, aliás, inconfundível. É um filme bem bacana, tragicômico, que fala de duas coisas: a nossa teimosia e a famosa "japonesice" (num termo muito bem cunhado pela Thábata)... É a história de Amélie, uma moça belga que é contratada como intérprete numa grande empresa japonesa e que tem que conviver com nada menos que os hábitos de um país que não é necessariamente estranho, mas difícil de compreender. No entanto, ainda que a cada dia lhe seja indicado um trabalho cada vez mais humilhante pela sua chefe (e também belíssima "antítese"), ela nunca desiste e se mantém fiel à empresa e ao contrato de um ano que firmou. É um filme interessante tanto pelos choques como pelas situações, pelos sentimentos suprimidos com pelas atitudes de ambas as personagens num ambiente totalmente hostil. E, de fato, embora culturalmente diferentes, Fubuki, a chefe, e Amélie, a subordinada, são muito parecidas.
Gosto dos filmes com a marca da produção de Alain Sarde porque eles têm essa capacidade de estimular a reflexão. As personagens são tão próximas que permitem essa visão pessoal e, acima de tudo, contêm um contexto de sofrimento quase búdico que as fazem transformar internamente. Como em
A Crise, de 1992, dirigido por Colinne Serreau - e um dos melhores filmes que eu já vi até hoje e de um final surpreendente - sobre um homem que perde o emprego e a mulher no mesmo dia e, não encontra, pelas deficiências do mundo, alguém que o escute, esse filme tem de uma maneira evidente essa componente, ainda que até um pouco surreal. Mas talvez, somada à nossa visão ocidental que sempre faz fazer valer a nossa opinião, custe o que custar, indica algum necessário desprendimento para nos fazer perceber o real sob o ilusório e até mesmo o platônico como algo absolutamente possível de ser vivido no cotidiano.
Paradoxalmente, um
must see. Nem que seja para ver as excelentes introduções das variações Goldberg de Bach em cenas que poderiam não combinar à primeira vista.
"Petite, je voulais devenir Dieu. Puis, consciente de mon excès d’ambition j´acceptai de faire martyre quand je serais grande. Mais il n’y avait pas de frein à ma foudroyante chute sociale. Je fus donc mutée au poste de rien du tout. Mais rien du tout c’était encore trop bien pour moi. Et ce fut alors que je reçus mon affectation ultime : nettoyeuse de chiottes."