pedromurilo.arq.br
16.4.07
  Um dia péssimo para o patrimônio... Mas um dia ótimo para a "Yayá"
Sítio de guerra.

Sexta-feira passada, fui visitar Campinas para o CPC-USP, onde estagiei em 2006 e agora passei a fazer alguns serviços nesse primeiro semestre. A linha de pesquisa na qual estou envolvido trata justamente da construção da maquete eletrônica da Casa de Dona Yayá, sede do CPC-USP na Bela Vista, que procura tornar apreensível as diversas fases construtivas da casa. Enfim, um resumo bastante sumário do que eu ando fazendo depois da conturbada fase do TFG... Dá pra ter uma idéia do que se trata clicando aqui.

Mas voltando à cidade, fui visitar algumas construções na área do Páteo Ferroviário de Campinas para reconhecer possíveis construções de tijolos da qual tínhamos notícias de se apresentarem, tanto construtivamente como tipologicamente, ao chalé de tijolos do fim do século XIX identificado como o núcleo central da casa. Enfim, tratava-se de uma busca por referências que balizassem algumas decisões de recomposição do modelo tridimensional do chalé de tijolos, dada a inexistência de indícios que comprovassem determinadas características.

Quando lá chegamos, - a Regina ainda havia levado alunos da Unicamp da disciplina de "Técnicas Restrospectivas" - nos deparamos com a demolição de três das cinco casas que íamos analisar, em plena atividade, "integradas" ao projeto de construção da Nova Rodoviária de Campinas. Uma hora a mais (um possível trânsito na Marginal Tietê que estranhamente não havia) e não haveria mais nada pra ver, nem fotografar, nem levantar, nem estudar, nem comparar. Depois de uma visita frustrada a algumas casas do Núcleo Colonial de Jundiaí (que não encontramos por estarem bem afastadas da estrada), esse foi quase outro furo. A diferença, no entanto, foi o contato com algumas cenas dramáticas e muita discussão sobre o que é valorizar o patrimônio ferroviário paulista...

A última moradora das casas, Dona Márcia, mulher de ferroviário, foi nossa guia. Disse que não saia dali enquanto a Prefeitura não oferecesse uma casa para ela na região - e não "pra alugar" como ofereceu o fiscal. O que a salvou do trator, mas não do despejo, é que a casa em que ela mora será "revitalizada" pelo projeto, sendo transformada em "Museu do Trem". As outras pessoas da pequena vila sob um viaduto que cruza a linha férrea já tinham saído, desiludidas, ou percebendo que não havia mais como lutar contra a marca, visibilidade e demagogia dos projetos urbanos das atuais administrações municipais... Tudo agora é fluxo. Sem começo, nem destino.


Situação em 2004. Foto: Jean Pierre Crété.


Vapor de demolição.


Estrutura à vista.


Escombros.


Duas das cinco casas.


A casa da Dona Márcia, o viaduto... o futuro "Museu do Trem".


Pois falta mesmo espaço pra tanto desenvolvimento...

Quanto ao chalé de tijolos da Casa de Dona Yayá, toda a tipologia do sistema construtivo da cobertura e os exemplares da caixilharia, nossas dúvidas, ficou mais do que evidente, afinal, estava tudo aos ares. O resumo da viagem, título deste post, é da Profª Maria Lúcia após ter visto as fotos. Mas o melhor ganho da viagem foi pensar um pouco no efeito que uma pintinha apagada numa folha de levantamento arquitetônico pode provocar na vida das pessoas...

"There are more things in heaven and earth, Horatio, Than are dreamt of in your philosophy." (William Shakespeare, Hamlet, Ato I, Cena V) 
Comentários:
Uma pena mesmo... Mas acho q a pena maior é ouvir dos administradores (em 'off', obviamente), que 'eram apenas umas casas velhas'...
Mas isso não impede de achar q restauro (parafraseando o 'Sabidão' do 'A Pequena Sereia'): Era muuuuuuuito chato!
 
agora campinas tem um museu da memória ferroviária... e tem como chegar nele! hahaha
(honestamente, demolir a história pra fazer algo pra contar a história é coisa de gente muuuuito inteligente)
 
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