"Eu tinha me esquecido de como você era tão quentinho!"
Por favor, se você ainda não assistiu ao filme "Superman Returns", não prossiga.É o momento de falar de futilidades. Quinta-feira fui assistir ao novo filme do Superman no cinema. E gostei muito. Mas percebi que o filme nem é algo tão fútil assim, principalmente pelo fato de que, se você parar pra prestar atenção, consegue traçar muitos paralelos. E eu, com muito do que eu ando vivendo no momento.
Sobre o filme em si: É meio estranho não enxergar o Christopher Reeve no colant azul, a cuequinha e a capa vermelha, apesar de que o ator é bem parecido, e até meio bobo igual... Homenagem justa. Na cena do avião, no começo, o mais engraçado foi ter lembrado do desenho "Os Incríveis" (torcendo pra acontecer alguma coisa com a capa na turbina). O momento
"I hope this hasn't put you off of flying. Statistically speaking, it's still the safest way to travel", tão representativo do "herói norte-americano" que tudo faz e ainda dá uma lição nos homens, é uma ode ao Mr. Reeve, sem dúvida. No mais, o Kevin Spacey está impagável. Ele sim, não tem ética nenhuma pra se preocupar, uma frase que eu soltei no ar esses dias e que deu muito o que pensar...
Mas o que dá o toque extra a esse novo filme é que ele é um outro super-homem, tão humano quanto semi-deus. E tão sincrético quanto possível. Do politeísmo do Atlas grego, no momento em que ele carrega o globo do Planeta Diário; do judaísmo da frase do Marlon-Brando-Jor-El quando explica porque pôs o seu filho na Terra confiando na capacidade dos homens em amar, apesar da sua eterna imperfeição; do cristianismo do próprio Super-Homem-Jesus-Cristo, que consegue elevar o meteoro-criptonítico e, ao fim, se entrega, no espaço, crucificado, para salvar os homens de si mesmos; do budismo de quando ele questiona o porquê dos homens sempre o chamarem, quando muito daquilo que pedem ajuda poderia ser feito por si próprios; e, por fim, do taoísmo da frase final ao filho Jason
"You will see my life through your eyes, as your life will be seen through mine. The son becomes the father and the father becomes the son".
Para um mundo que ultimamente têm por demais clamado por um super-homem na sua vida cotidiana, este filme vem mesmo a calhar para dar um belo tapa na cara das pessoas. No entanto, é preciso ter alguma força de vontade (e algum conhecimento) pra conseguir enxergar essas "coincidências" sob o véu do herói paternalista - e marqueteiro - que põe a cueca sobre a calça. Quando essa mensagem oculta é tida como presente em todas as religiões, no mundo todo e até em épocas diferentes, é de se confirmar a irrelevância do dogmatismo de cada doutrina e o real fundo da verdade.
A descoberta da luz presente no filho Jason é senão a descoberta da nossa própria luz, oculta, massacrada pelos outros e por nós mesmos, que não escutamos aquilo que queremos fazer de verdade, nossa confiança e nosso "instinto". (E, para mim, pareceu magistral fazer isso com um piano de cauda). Nesse momento, o título do artigo da Lois Lane é mais do que feliz. Por isso, em vez de acreditar em algo, parece mais fácil acreditar naquilo que brilha em nós mesmos e que, com o tempo justo, há de se libertar e romper com tudo que hoje existe... Engraçado, lembrei-me de Platão agora...
"They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way."
