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29.1.06
  O fim do ano do galo Galo de Rinha
(Jayme Caetano Braun, 1958)

Valente galo de rinha,
guasca vestido de penas!
Quando arrastas as chilenas
No tambor de um rinhedeiro,
No teu ímpeto guerreiro
Vejo um gaúcho avançando
Ensangüentado, peleando,
No calor do entreveiro!

Pois assim como tu lutas
Frente a frente, peito nu.
Lutou também o chiru
Na conquista deste chão...
E como tu sem paixão
Em silêncio ferro a ferro,
Cala sem dar um berro
De lança firme na mão!

Evoco neste teu sangue
Que brota rubro e selvagem.
Respingando na serragem,
Do teu peito descoberto,
O guasca de campo aberto,
De poncho feito em frangalhos.
Quando riscava os atalhos
Do nosso destino incerto!

Deus te deu, como ao gaúcho,
Que jamais dobra o penacho,
Essa de altivez de índio macho
Ques ostentas Já quando pinto:
E a diferença que sinto
E que o guasca bem ou mal!
Só lutas por um ideal
E tu brigas pôr instinto!

Pôr isso é que numa rinha
Eu comtigo sofro junto,
Ao te ver quase defunto.
De arrasto, quebrado e cego,
Como quem diz Não me entrego:
Sou galo, morro e não grito
Cumprindo o fado maldito
Que desde a casca eu carrego!

E ao te ver morrer peleando
No teu destino cruel.
Sem dar nem pedir quarteu.
Rude gaúcho emplumado.
Meio triste, encabulado,
Mil vezes me perguntei
Pôr que é que não me boleei
Pra morrer no teu costado?

Porque na rinha da vida
Já me bastava um empate!
Pois cheguei no arremate
Batido, sem bico e torto ..
E só me resta o conforto
Como a ti, galo de rinha
Que se alguem me
dobrar-me a espinha
Há de ser depois de morto!


Hoje é o primeiro dia do ano novo chinês, baseado no ciclo lunar. Ano do cachorro: fiel, alegre, companheiro, atencioso... E todas aquelas coisas bacanas que quem é "regido" por esse animal gosta de imaginar... Claro que ele é sempre meio bobo, inseguro, e que confia até demais nas pessoas, mas as qualidades não vêm sem os defeitos... Pra completar, de fogo: desperto, vivo, atento. Ou extremamente furioso...

Eu adoro encontrar essas coincidências engraçadinhas que procuram dar algum sentido à vida da gente... Como se isso fosse realmente determinar o nosso caráter ou nosso futuro sem precisar de nenhum esforço próprio. Isso definitivamente não existe. Eu gosto é de saber que instrumentos agora estão disponíveis para que eu possa continuar andando como sempre. E desde que eu descobri isso, têm tudo dado muito certo.

Eu estava até que me sentindo ligeiramente ansioso para que o cachorro logo viesse porque o galo foi um ano bastante complicado pra todo mundo que eu conheço. Até brinquei com a Thábata sobre isso no blog dela. E me esqueci de uma coisa extremamente importante nessas convenções, ou, melhor dizendo, rituais, que o homem inventou em cada cultura para conseguir viver em paz consigo mesmo: a reverência.

Sexta-feira passada, durante as minhas balançantes férias da última semana num cruzeiro até Salvador (sim, porque eu viajei e não avisei quase ninguém), ouvi a poesia acima, dita por um simpático e, diga-se, eloqüente turista gaúcho. Cultivando os defeitos desse galo complicado, simples assim, fui alertado de suas qualidades.

Pensei no ano que passou e me lembrei de tantas outras coincidências malucas em volta do ano do galo de madeira. Até lembrar do galo de Barcelos, pintado à mão, que eu ganhei da Julieta na festinha de despedida no cais de Gaia. Agora, com o ano do cachorro, preciso é tomar vergonha na cara e mandar emoldurar logo o fantástico (e literal) quebra-cabeça inventado pela Inês e pela Ana que eu ganhei na mesma festinha...

Numa mensagem futura eu falo das férias, num tom quase de redação escolar. Dentre as novidades, descobri que fazer tai chi em alto-mar, com o barco balançando, é muito engraçado e ao mesmo tempo bastante assustador... Isso porque as fotos, até as de Iguape e Ilha Comprida do "ano novo mesmo", saem amanhã. Eba. 
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