pedromurilo.arq.br
30.9.08
  Vive La France em Salvador
Uma visita ao Museu Rodin...


Ao Versailles e ao Louvre...


Um cinema na Aliança Francesa...


E, claro, com Robespierre pra Vereador... 
25.9.08
  Eta vida besta, Meu Deus
Era uma tarde tranqüila em Lençóis...


Argh!... Mais um turista-chato-metido-a-fotógrafo-amador...


Isso cansa a minha beleza... 
21.9.08
  Jarê
Fogueira.


Roda.


Dança.


Terreiro.


Samba.

Festa de Santa Bárbara, Terreiro Palácio de Ogum, Lençóis. 
17.9.08
  Impressões de um cristão-novo do regionalismo
São Paulo, SP, vista da Avenida Paulista a partir do Terraço Itália.

"O Regionalista Aprendiz vivia muito envergonhado de só conhecer de livros o sabor regional da vida de engenho. Não sabia como era um bangüê. Em menino esteve em Muribara. Mas naquele tempo não era ainda regionalista. Da casa de engenho só lhe ficou como lembrança uma mancha escura de almanjarra, a que estava ligada a recordação sinistra de um primo esfacelado na moenda. O que o atraía então era a grande piscina de cimento onde se podia nadar... E o vulto encolhidinho da bisavó de noventa anos, cujos dentes perfeitos começavam a cair.

O Regionalista Aprendiz fazia muitas perguntas sobre os bangüês. Tinha medo que eles acabassem de todo. Queria sentir de verdade o famoso cheiro das tachadas que respirado na infância, dizia Nabuco, embriagava para o resto da vida. E perguntava a si mesmo se seria ainda possível embriagar-se agora.

Não era só em matéria de engenhos que lhe faltava o contato vivificador da realidade. Ignorava tudo da alma profunda do Nordeste. Tinha um amor grande por todas essas coisas. Mas era um amor sem nenhuma experiência, muito desinfeliz, embora cheio de ternura.

Na genealogia de certo tronco ilustre da velha aristocracia rural, a "brava gente" das crônicas não sabia distinguir o ramo espanhol, que se assinava com y, do português que se assinava com i.

Lembrava-se bem como lhe apontou o gosto pelas tradições de sua província. O pai possuía na biblioteca uns livros grossos de lomabada azul onde havia um título que o Regionalista Aprendiz, aos treze anos, não entendia bem (nem procurava entender): Miscelânia. Esses tomos de Miscelânia representavam um mundo para ele. Desse mundo, um dos cantos mais cheios de delícia eram umas páginas de folclore de Silvio Romero. As histórias de jabutis e de onças encantavam-no. Havia detalhes perturbadores em certas quadrinhas que ele lia e relia sem se aborrecer. Por causa mesmo de uma quadrinha dessas meteu-se em cabeça que aquela leitura devia de ser coisa proibida e por isso lia sempre às escondidas a tal Miscelânia.

Há duas coisas no mundo
Que são da minha paixão:
Perna grossa e cabeluda,
Peito em pé no cabeção.


Que era cabeção? Uma vez, depois de muitos dias de medo e hesitação, perguntou à mãe: "Mamãe, que é cabeção?". A mãe perguntou onde ele tinha lido a palavra. Então ele desconversou e saiu correndo.

Disse que ele ignorava tudo da vida do Nordeste. Não é verdade. Ao menos a cozinha conhecia bem. Tinha viva a recordação das grandes tachas de cobre onde pelas festas a avó fazia preparar a canjica de coco. (O encarnado do cobre polido era a cor mais nítida de toda a sua infância.) Não só a conhecia, como se deliciava sinceramente no paladar de todos aqueles pratos, de que ficou privado a partir dos nove anos.

Essa era a única superioridade que podia alegar sobre o ex-Regionalista, o que propriamente o diferençava do outro. Com efeito, o ex-Regionalista era um sujeito enfastiado que todas as manhãs, em frente a uma mesa repleta de cuscuz, tapioca molhada, angu de milho e outras gostosuras, bebia um copo de leite condensado de Horlick, a que misturava uma colher de um pó esquisito feito com ovo, malte e cacau, tudo coisa de fábrica.

Esse ex-Regionalista fora como ele. Escrevera sobre cozinha pernambucana, sobre os descendentes de fidalgos vianeses que vieram com Duarte Coelho, sobre os negociantes portugueses que comiam nas calçadas da rua Nova em porcelana azul de Macau, sobre as sinhás que as mucamas espiolhavam na modorra das sestas, tudo com abundantes citações de Koster e Tollenare. Para acabar tomando leite condensado de Horlick...

Ele tinha que defender o seu amor periclitante contra o ruim pessimismo do ex-Regionalista. E foi sob os apupos do outro que partiu para o bangüê de Vitória, a pequena cidade do interior pernambucano. A viagem correu difícil. Automóvel empacado na lama, empurrado a braço, cordas enroladas nos pneumáticos. Mas no engenho o fresquinho de Petrópolis; a hospitalidade confirmando as tradições rurais; a varanda acolhedora; a capelinha tão amorável, restaurada por um curioso mais dentro das linhas do estilo que tanta coisa que há por aí afora com pretensão a arquitetura tradicional; e finalmente o banguê.

A maquinaria complicada da descrição de Antonil estava ali com a grande roda de água, a moenda, as tachas, a fornalha, a bagaceira, as formas de purgar, tudo tão simples, fácil, acessível.

A expectativa sarcástica do ex-Regionalista ficou lograda. O Regionalista só tinha encontrado motivos de prazer. É verdade que não contou para o outro a sua impressão do famoso cheiro que embriaga para a vida inteira quando respirado na infância. Pareceu-lhe que pode ser sentido numa simples xícara de mel de engenho e dispensa a infância. O que não dispensa é o dom da poesia, como existiu em Nabuco."

Manuel Bandeira, Crônicas da Província do Brasil (1937), São Paulo: CosacNaify, 2006. pp. 189-191.


Lençóis, BA, vista o centro histórico às margens do rio. 
12.9.08
  Up-to-date "Fui viajar. É bom visitar outros lugares, ver coisas diferentes, ter novas experiências. Viajei leve, pouca bagagem. Mas os meus pensamentos foram comigo. Gostaria de tê-los deixado em casa, para ver se eu mudava de assunto, se eu ficava diferente. Mas não há jeito de deixá-los em casa. Disse o Bernardo Soares: "De que me adianta ir até a China se não consigo desembarcar de mim mesmo? Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. As viagens são os viajantes. A vida é o que fazemos dela. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos."

Rubem Alves... com dica da Nayra (obrigado!) 
pequeno muro de pedra, ou pedra de pequeno muro, depende apenas do estado de espírito.

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